quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Investimento na carreira X vida amorosa

Ultimamente tenho me deparado com algumas situações na vida em que é necessário seguir um caminho mesmo que isto custe algo. Geralmente a escolha deste caminho está fortemente influenciada pela cultura imediatista de nossa sociedade.


Graças ao espaço, cada vez mais amplo, da mulher no mercado de trabalho e sua luta por condições igualitárias, um novo modo modelo de relacionamento entre casais começou a tomar forma.


Tenho observado que este novo modelo tem trazido uma reviravolta nos relacionamentos pessoais? Qual deveria ser a função de cada um em um relacionamento?




Antigamente tudo era mais simples. A mulher era criada para cuidar dos filhos, deixando a profissão em segundo plano. O homem o provedor do lar. E agora? Nas condições atuais? Quem deve exercer esta função? Tanto homens quanto mulheres podem exercer funções antes consideradas exclusivamente para mulheres ou para homens. A mulher, em algumas famílias, é a provedora do lar e o homem cuida dos filhos. Em outras famílias a mulher assume todo o papel ou o inverso também ocorre. Que bagunça, não é mesmo?


Desde essa revolução da mulher no mercado de trabalho, a competição mercadológica tornou-se cada vez mais acirrada. A mulher começou a voltar-se mais para a carreira, investindo em cursos, pós-graduação postergando seu desejo maternal. Nota-se, para as classes médias-altas, uma tendência, tanto para homens e mulheres, a assumir um casamento bem mais tarde, na faixa dos 33 a 40 anos. Antes desta faixa, os jovens, que buscam futuramente uma vida mais sossegada, estão semeando, investindo pesado na carreira. Muitos investem em cursos de pós-graduação, outros em ações na bolsa de valores, outros em previdência privada. Vejo esses jovens cada vez mais preocupados com o futuro. Percebo a ânsia de poderem oferecer a sua futura família aquilo que receberam em casa, ou algo até melhor!!!



Esses jovens, muitas vezes, acabam tão focados na carreira que muitas vezes, esquecem do lado afetivo e emocional. Infelizmente, eles mesmos, e a própria sociedade, cobram deles um resultado. Se há investimento tão pesado na profissão, espera-se que um dia haja retorno disso tudo. E infelizmente, é cobrado um retorno imediato, causando muita ânsia neste jovem adulto que está planejando sua vida. Muitos deles investem tanto na carreira que dizem não terem tempo para um relacionamento amoroso. Aqueles que conseguem um relacionamento estável, vivem em conflitos, pois tendem a colocar a carreira em primeiro lugar. Percebo nestes casos, a ânsia em "TER" sobressaindo sobre o "SER". Esse jovens adultos são tão treinados a manter a vida socio-econômico-cultural de seus pais, em um mercado muito pior do que antigamente. Tanto é que a aquisição de bens materais acaba sendo mais importante do que a aquisição de experiências afetivas que são advindas de relacionamentos amorosos.




Existe uma relação inversamente proporcional: jovens cada vez mais preparados para o mercado de trabalho e cada vez menos experientes na arte de se relacionar afetivamente com alguém. A sobrecarga é tanta, que muitos deles, sentem-se como máquinas e o sentimento de solidão acaba tomando conta de toda sua mente. Muitos deste jovens, envolvidos na loucura do dia-a-dia, não percebem sua juventude indo embora e quando acordam para a realidade estão em torno dos 40 anos e aí, sim, o choque é tão grande que os valores começam a se inverter. Geralmente nesta idade, tudo o que aqueles jovens semearam começam a ter retorno e isso leva gera neles um estado de realização profissional. Quando atingem seus objetivos na carreira, aí sim, o que foi deixado para um segundo plano, torna a ser meta: a vida amorosa.







Percebo muitos jovens na faixa de 33- a 40 anos planejarem uma vida a dois: o casamento. Mais uma fase de muita luta e investimento. Muito mais complicado, pois os sentimentos são subjetivos e não temos o controle sobre eles. Quem é a pessoa ideal para mim? Quem será a pessoa que passará o resto de minhas vidas junto a mim? Uma nova sensação de angústia novamente toma conta deste jovem!!! Mas não basta apenas encontrar alguém que goste da gente. Esse jovem tão exigente na carreira, também é exigente na escolha da pessoa certa. Entramos numa espécie de jogo de quebra-cabeça em que muitas peças estão próximas às outras, mas somente uma única peça é capaz de se encaixar em sua respectiva peça. Esses jovens conhecem muitas "peças" se relacionam com elas, uns até casam com as peças erradas, depois vem a separação, o divórcio e caem de novo no jogo do quebra-cabeça.




Tenho me perguntado muito: Será que não estamos dando muito valor no investimento da carreira deixando a vida amorosa a segundo plano? Será que toda essa exigência profissional também não está sendo levada à na busca pela pessoa ideal? E, por isso mesmo, tenha aumentado o número de pessoas cada vez mais insatisfeitas com os relacionamentos e havido muitos divórcios, pelo menos com relação à classe média alta?


Que valores são esses? Onde está o ser humano? Onde está o lado maternal, fraternal de cada um de nós? Que sociedade fria e calculista é esta que nos impões isto? No fundo o que todos nós queremos é amar e ser amado. Mas isso não nos basta. Como viver de amor, se lutamos tanto para ter uma vida confortável? Infelizmente aquela famosa frase tem sentido: " o amor não paga conta". Esses jovens buscam alguém com as mesmas condições que eles. Mas percebo que é extremamente difícil. No Brasil, uma ínfima parcela da população possui pós-graduação. Acredito que um jovem que lutou tanto na carreira dificilmente irá se relacionar com alguém que não esteja na mesma situação que ele. Noto que não há amor que resista à competição ou à falta de admiração de um pelo outro.



Infelizmente, ninguém vive de amor!!! O jogo do quebra-cabeças também tem como regra observar se a peça, que está próxima a tua peça, contém algo a mais para oferecer além de amor, carinho, compreensão, afeto , atenção, admiração, etc. Vejo muitos jogos de interesses por trás de todo o "amor" que um diz ter pelo outro. É óbvio que ninguém irá assumir isso, não é mesmo? Mas temos alguns exemplos na própria mídia a respeito disso. Nem vou citar nomes aqui.


Gostaria que vocês refletissem um pouco na questão dos valores impostos pela sociedade no que tange à carreira e vida amorosa. Observo que as posses são muitos mais desejadas e valorizadas do que o amor, o amor puro, incondicional. Será mesmo que vale a pena tudo isso? Tanto sacrifício e deixarmos de lado experimentar sensaçãoes tão agradáveis de dar e receber afeto?



Por isso mesmo acredito no equilíbrio. É necessário investir na carreira, mas também é necessário investir no lado afetivo!!! (o difícil é achar alguém que também queira a mesma coisa e nos ame de verdade, sem segundas intenções!!!)